Balão dos sonhos perfeitos

Quando nascemos num ambiente de paz e amor trazemos todos os sonhos do mundo. Os nossos e os dos que nos rodeiam, formando um balão metafísico de perfeição à nossa volta. Nascemos para sermos felizes, fazermos o bem e termos uma longa e próspera vida.
Vamos crescendo e a vida entra aos poucos no balão da perfeição. Vamos aprendendo que nada é idílico, vamos mostrando aos que nos amam que não somos um ser transcendente, somos apenas gente. Vamos caminhando de mãos dadas pelas curvas da vida. Com sorte cumprimos alguns sonhos desse balão, juntamos outros, deixamos muitos pelo caminho, mas vamos esvaziando-o e libertando todas as almas dos compromissos feitos.
Quando partimos muito antes da hora levamos connosco o balão dos sonhos perfeitos, todos aqueles que foram desenhados para nós. E morremos perfeitos.
Quando vamos antes da hora não é um político corrupto que se evita, ou um toxicodependente que se livra da metadona, ou um ladrão que evita a cadeia. Quando vamos demasiado cedo é uma vida feliz que se perde. São demasiados sonhos arrancados com facas e dentes de demasiados peitos.
O último sopro da vida leva a nossa alma e pedaços de outras, aqueles pedaços que foram soprados de mansinho para o nosso balão dos sonhos perfeitos. Estávamos destinados a ser tudo e não conseguimos.
E isso dói no corpo e corrói a alma dos que ficam.