Tempo suspenso
O relógio marca 9h35. Está parado há vários meses desde
que a pilha se esfumou de vida. Os dias estão como o relógio, suspensos.
Sucedem-se iguais como um suster de respiração contínuo, que retira fôlego
aos sonhos e remetem toda a existência para um amanhã que não se sabe quando
chega.
Até aqui o relógio parado não mereceu nenhuma atenção, tem sido um objeto
inerte de uma rotina agitada, indiferente aos ponteiros mortos. No acordar
para mais um dia igual aos anteriores e uma cópia dos que se seguirão reparo no relógio parado que de repente ganha uma outra dimensão, é o que melhor
marca o compasso deste tempo suspenso.
Abre-se a janela e o vento fresco da manhã empurra a luz do sol de março para
o quarto, renovando o ar e a certeza que há uma vida lá fora que ainda corre. O
relógio marca 9h35.
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