Deixei de ter uma profissão
Todas as profissões deviam ter um nome, uma designação mais
ou menos objectiva. Quando alguém diz que é padeiro, bombeiro, professor toda a
gente percebe. Cada mente vai fazer a sua contextualização, acrescentar os pré-conceitos
e a interpretação própria. Mas pelo menos há um denominador comum que basta
para que não seja necessária a pergunta 1.1: “E fazes mesmo o quê?”
Durante os últimos anos foi bem mais fácil responder à
pergunta: “o que é que fazes?”.
Jornalista. E pronto! Muitas vezes vi um sorriso sarcástico
a colocar-me a etiqueta “paparazzi” na testa. Outras vezes o sorriso piedoso do
“coitadinha, deve estar a receber dois tostões a recibos verdes”. Pronto,
também havia o “fixe” de algumas almas que pensam nos repórteres aventureiros e
armados em Super-homem.
Eis que chegou o momento de me aventurar em novos caminhos e
eis que…deixei de ter profissão. A questão “O que é que fazes?” começa a ser um
momento embaraçoso.
Afastei logo a hipótese de “marketer” porque à maioria dos
ouvidos ia soar ao anúncio da Wiskas, borrifado com presunção.
Opção B: Técnica de Marketing. E eis que a esta resposta se
segue a interjeição: “ah…”. Depois de uma breve reflexão no arquivo das profissões
e depois da busca não devolver resultados, eis que surge a pergunta 1.1: “E
fazes mesmo o quê?”.
Aí explica-se o que se faz num departamento de marketing,
excluindo logo aquelas cenas do acrescentar valor e tal, porque senão seria
mais rápido ter respondido anteriormente “Marketer”.
Acabo de responder e novo silêncio. “Ah…”. Novo silêncio. “És
vendedora?!”
Não! Mas ajudo a vender…
“Ah…”. Silêncio. “Fazes publicidade?!”
Mais ou menos, ajudo a fazer.
Silêncio. “Tá calor hoje!”.
Se calhar andei enganada durante mais de dez anos e não
percebo patavina de comunicação…
Silêncio.
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